Tuesday, May 30, 2006

Prólogo tardio

Um dos motivos de tudo foi a falta de memória. Eu sempre achei que teria tempo para sempre porque minha memória era rara e impecável, com direitos a detalhes que as pessoas não percebiam nem na hora.
E ela se foi.
Esqueço de tudo, esqueço das palavras e das consultas e dos nomes dos discos e livros e das pessoas. Esqueço de telefones e de contas, esqueço da caderneta da escola da minha filha, esqueço das dívidas.
Espero que não tenha esquecido como escrever.
Não sei se lesei por causa dos excessos ou por falta de sono, mas o fato é que eu lesei. Vou tentar deslesar escrevendo, escrevendo, escrevendo de novo.

O outro motivo é que eu não ando lá com muita vontade de escrever livros meus. Tenho mil projetos, mil coisas na cabeça, mil idéias, livros com outros, revistas, bandas, coisas e coisas, mas os meus livros mesmo, poxa, não quero agora. Antigamente os escritores podiam demorar anos e ninguém enchia o saco. Então eu estava ficando restrita a encomendas e fiquei com medo que a minha alma morresse sufocada. Vamos ver se agora ela consegue respirar.

E o outro motivo foi: porque eu quis. Já queria fazia tempo mas morria de preguiça e um certo medo daquilo tudo que aconteceu da outra vez, medo de me repetir e de ver tudo acontecendo de novo. Mas não. As coisas não caminham assim. Eu ando para a frente. O que ficou para trás muito me dá orgulho, mas está lá atrás. Isso inclui quase todos os anos da minha vida. Não tem nada igual agora. Só o meu nariz. Não, nem o meu nariz, porque ano a ano ele vai caindo. Eu juro.

Este é o Adiós Lounge. Porque o passado está lá atrás, dando tchauzinho e mandando lembranças - de lembranças eu preciso mesmo. Só espero que entendam que eu vou continuar não dando entrevistas sobre blogs. Pelo amor de deus. Não encham meu saco de novo com isso agora. Mas não vão encher. NÉ? Obrigada. E os detratores!, que saudade. Pena que aqui não tem comentários nem email de contato. Aí vocês vão ter que ficar gastando o tempo falando mal de mim nas suas próprias casas. Obrigada.

Então cá estou eu de volta, mais hermética do que nunca. E caralho, eu estou feliz. Meu pai me disse esses dias: Clarah, você ainda vai ser muito feliz. Incrível, porque faz pouco mais de um mês e eu estava quase chorando e meio miserável, mas passou. Sim, passou. As coisas passam, deixam marcas mas passam. Feliz com muitas coisas, feliz pra caralho, cheia de endorfinas, cheia de idéias, cheia de vida nova, o coração voltando a bater no peito que, eu tinha certeza, estava morto. Cheia de dívidas também, mas fodam-se elas. Eu sei que vou ter dinheiro em breve, muito breve. Bom mesmo seria ganhar na megasena, mas para isso eu teria que jogar.
Eu jogo em outras coisas.
Até breve,


 
 

TUDO TINHA MUDADO. Menos o que ficou igual.

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senso*