Eu mato o tempo enquanto o tempo me engole.

Tenho três vasos vazios na minha varanda. Três vasos de plantas mortas. Eles estão lá há séculos, esperando alguma coisa acontecer. Todos são de flores ganhas de amores igualmente mortos. Ou da vizinha de cima, dona Úrsula. Ela sempre me dá alguma coisa. Esses dias ela me deu uns caquis. Mas a maioria é de amores mortos. E eu me cansei de olhar aqueles vasos inúteis cheios de terra. Comprei umas sementes. Camomila. Não-te-esqueças-de-mim. E Amor Perfeito. Escolhi pelo nome. Nem sei a cara delas direito, pra falar a verdade. Ia comprar umas margaridas, mas as minhas margaridas sempre foram suicidas. Vou plantar umas Camilas. Uns amores. Pra não esquecer de ninguém. Ou para não ser esquecida, tanto faz.
Isso se alguma delas crescer.
Duvido que cresçam.