SE EU NÃO LEMBRO, ENTÃO NÃO ACONTECEU.
E é assim que é. Aos poucos vou voltando a mim, de ontem e dos últimos anos. Essa sim que sou eu, que fala demais, que fala tudo, que arranca o coração do peito e joga na sarjeta. Ou na mão de alguém que deixa cair na sarjeta. Essa sim sou eu fazendo coisas das quais deveria me arrepender mas nem me arrependo porque a vida é curta. Sem contar que, como eu já disse, se eu não lembro, então não aconteceu. Se aconteceu para os outros é problema deles. A boca dormente e o gosto de vinho barato, a camiseta molhada de alguma coisa e nenhuma memória de como eu desci a Augusta e comprei cigarro no posto da esquina. Não era eu, era ela. Ela saindo da casa de alguém e ligando para outra pessoa de manhã sem ter nada pra dizer. Celulares deviam ter um dispositivo que bloqueasse o sinal, tipo um bafômetro assim. Mas foda-se. Reaprendendo a palavra foda-se. Focof. Eu sou uma mulher louca e um pouco equilibrada. Se fosse mais perderia a graça. E é assim que é.