BRINCANDO COM FOGO
Eu sou uma mulher piromaníaca. Ontem um amigo chegou e disse "mulher, você é encrenca, pode ver que eu nem chego perto". Eu sou encrenca? É, eu devo ser encrenca. Ultimamente eu tenho sido encrenca. Ultimamente eu tenho tido que lidar com um milhão de coisas. Tenho que lidar com o fato de ser mãe, que os meus amigos homens, por exemplo, não sabem como é difícil. Eles podem até ter filhos. Mas eles são pais. E do jeito que as coisas são, é assim mesmo: pai é pai, mãe é mãe. E é incrível ser mãe? É lindo e engrandecedor? É. Mas é foda. É uma responsabilidade e um peso também. Peso? Oh! Sim, peso. Eu nunca mais vou estar sozinha. Eu ainda consigo ser egoísta às vezes e pensar só em mim. Mas ela sempre vai estar ali. É assim que é. Eu comprei essa briga, eu vi aquele coraçãozinho batendo e disse: eu quero que nasça. E nasceu. E agora eu vou fazer o meu melhor - mas o meu melhor não implica nunca em deixar de ser quem eu sou. Essa é a mãe que eu sou. Assim mesmo. É o melhor que eu posso dar. Porque se eu for ficar tentando mudar por causa disso vai ser muito pior. Eu vou querer jogar as frustrações em cima dela porque deixei de ser quem eu era. E isso eu não vou fazer. Eu vou ser quem eu posso ser.
Tem isso.
Tem gente jogando expectativas e frustrações em cima de mim como se eu fosse a grande privada mundial e a culpada pelos problemas e as cagadas deles. As cagadas do passado que nos levaram ao presente onde a pessoa está insatisfeita. Olha, me desculpe, mas eu não estou aqui pra resolver problema de ninguém. Eu tenho os meus e eles são bem grandes. Problema a gente resolve com o problema, não com a pessoa que te transtornou. Mas é assim. As pessoas têm essa mania de querer jogar as coisas em cima dos outros, é mais fácil desse jeito; se eu fizer uma merda e você me perdoar, está tudo certo. Se eu fizer uma merda e você não me perdoar, vou me remoer para sempre, sofrer, chorar e ter angina encolhida no chão da cozinha. Na verdade o que importa é só se livrar da culpa do que você fez, não do sofrimento que causou no outro. Então que se foda. Eu quero mais é que as pessoas aprendam a lidar com as culpas delas. Se tiver que sofrer, que sofra.
E eu ainda tenho que lidar com chantagem emocional. Isso deveria ser proibido por lei. Eu não sei onde as pessoas aprendem a fazer chantagem emocional, mas elas deviam TODAS PARAR AGORA. De novo, eu tenho os meus problemas e ficar choramingando não vai me fazer ir para porra de lugar nenhum. Vai me fazer virar as costas e sair andando. Sair andando de quem saiu andando e devia ter ficado. Chantagem emocional é barato, é baixo, muito baixo. Não quero mais saber dessa merda.
É isso. As pessoas jogam coisas em cima de mim. Toneladas. Eu vou segurando. Eu seguro várias ondas. Mas uma hora estoura. Vai estourando. Eu vou soltando aos poucos. Eu vou perdendo o controle. Eu moro sozinha em São Paulo com uma criança de quase quatro anos sem nenhuma estrutura familiar - divido com o pai, claro, porque pelo menos o pai da minha filha eu soube escolher direito. Mas não tem ninguém aqui. Somos eu e ela e os gatos. Eu faço o meu melhor para pegar uns trabalhos que não me façam sentir uma puta das letras. Eu tenho 27 anos e não sei nada. Eu tenho um longo caminho pela frente. Já fiz muita merda e certamente vou fazer mais outras tantas. Às vezes eu fico assim, como agora, numa fase de merda, sentindo uma espécie de abandono e uma angústia de fim de tarde de domingo. Eu não tenho ninguém pra me abraçar e me dizer que vai ficar tudo bem, porque nunca fica tudo bem de verdade. Não quando se é uma piromaníaca como eu.
Tem isso.
Tem gente jogando expectativas e frustrações em cima de mim como se eu fosse a grande privada mundial e a culpada pelos problemas e as cagadas deles. As cagadas do passado que nos levaram ao presente onde a pessoa está insatisfeita. Olha, me desculpe, mas eu não estou aqui pra resolver problema de ninguém. Eu tenho os meus e eles são bem grandes. Problema a gente resolve com o problema, não com a pessoa que te transtornou. Mas é assim. As pessoas têm essa mania de querer jogar as coisas em cima dos outros, é mais fácil desse jeito; se eu fizer uma merda e você me perdoar, está tudo certo. Se eu fizer uma merda e você não me perdoar, vou me remoer para sempre, sofrer, chorar e ter angina encolhida no chão da cozinha. Na verdade o que importa é só se livrar da culpa do que você fez, não do sofrimento que causou no outro. Então que se foda. Eu quero mais é que as pessoas aprendam a lidar com as culpas delas. Se tiver que sofrer, que sofra.
E eu ainda tenho que lidar com chantagem emocional. Isso deveria ser proibido por lei. Eu não sei onde as pessoas aprendem a fazer chantagem emocional, mas elas deviam TODAS PARAR AGORA. De novo, eu tenho os meus problemas e ficar choramingando não vai me fazer ir para porra de lugar nenhum. Vai me fazer virar as costas e sair andando. Sair andando de quem saiu andando e devia ter ficado. Chantagem emocional é barato, é baixo, muito baixo. Não quero mais saber dessa merda.
É isso. As pessoas jogam coisas em cima de mim. Toneladas. Eu vou segurando. Eu seguro várias ondas. Mas uma hora estoura. Vai estourando. Eu vou soltando aos poucos. Eu vou perdendo o controle. Eu moro sozinha em São Paulo com uma criança de quase quatro anos sem nenhuma estrutura familiar - divido com o pai, claro, porque pelo menos o pai da minha filha eu soube escolher direito. Mas não tem ninguém aqui. Somos eu e ela e os gatos. Eu faço o meu melhor para pegar uns trabalhos que não me façam sentir uma puta das letras. Eu tenho 27 anos e não sei nada. Eu tenho um longo caminho pela frente. Já fiz muita merda e certamente vou fazer mais outras tantas. Às vezes eu fico assim, como agora, numa fase de merda, sentindo uma espécie de abandono e uma angústia de fim de tarde de domingo. Eu não tenho ninguém pra me abraçar e me dizer que vai ficar tudo bem, porque nunca fica tudo bem de verdade. Não quando se é uma piromaníaca como eu.