mudando perguntas
eu poderia escrever uma dissertação sobre a distorção que os jornalistas fazem de tudo que você fala (às vezes mesmo sem querer), mas acho que é mais ilustrativo simplesmente publicar uma entrevista que eu dei ontem e que foi publicada hoje no portal terra. acho que é bem esclarecedor.
isso foi o que me perguntaram:
1. queria que vc contasse sobre o Vida de Gato, um dos seus primeiros livros, como rolou de publicá-lo em inglês (editora, como chegaram até você, o que vocês espera disso, e como vai ser a divulgação);
o vida de gato é o meu terceiro livro. acabei de lançar o quarto, nossa senhora da pequena morte, pela editora do bispo. publiquei um capítulo na revista 3AM e a editora creation books se interessou. basicamente é isso.
2. bela responsa estar entre escritores ingleses, você gostaria de comparar a literatura 'jovem escritores ingleses' X jovens escritores brasileiros?
nah.
3.Você se considera uma autora maldita? Do tipo marginal? Porque bem ou mal, pelo que vejo o que vc faz, tem atitude, diria, punk.
acho uma bobagem esse negócio de maldito. atitude punk é uma coisa meio antiga também. eu só faço as coisas que eu acredito do jeito que eu acho que devem ser feitas, não acho que exista maldição e nem punkismo nenhum nisso. se pra isso precisar atrasar as contas todo mês, tudo bem.
3b. O sucesso te seduz? Te interessa entrar no sistema?, Que porta você quer entrar no sistema? sabendo que para tudo tem um preço... ou bancar a vida indie vale mais a pena? Em outras palavras, jogar o jogo do sistema e quem sabe ter mais leitores, te parece uma bom caminho / boa opção?
me interessa ganhar na megasena. não me interessa ter mais leitores porque ninguém nunca entende nada - aqui no brasil todo mundo tem muita pressa de julgar e rotular tudo sem nem conhecer. eu quero ganhar dinheiro suficiente pra bancar a minha vida com coisas que não afetem a minha integridade. se não for do meu jeito eu não faço - meu jeito pode até ser negociável, mas se eu me sentir ferida, não vou fazer. uma coisa boa, por exemplo, foi ser selecionada no petrobras cultural e ganhar pra escrever um livro. isso sim é vida.
4. Você acha sua geração muito careta?
eu não acredito em geração. o mundo está segmentado demais para ainda ter essa divisão.
5. E os críticos? Quão compreendida você acha que é, ou não és?
alguns entendem, outros não entendem, outros não gostam mesmo, outros amam. crítico pra mim é só um cara com uma opinião. isso não me afeta.
6. Como foi ou como é sua relação com o filme 'Nome próprio'? Você tem apego a personagem principal? O jeito como a Camila foi retratada, (ou interpretada) você gostou ou não? Pelo que vi, você procurou se distanciar da Camila do filme, por alguma razão específica? Por que vocês são tão diferentes?
não tenho apego nenhum. meus são os livros, o filme é uma adaptação do diretor. a diferença entre as camilas é que a do filme é desprovida de senso de humor. o filme foi feito por uma pessoa de outra geração, que é mais adepta do discurso do que da ação e não sacou algumas coisas. mas é assim mesmo, é uma adaptação - quem vende os direitos está sujeito a isso. acho a atuação da leandra primorosa e gosto do filme enquanto filme, à parte da minha obra. não tenho apego nenhum com o filme porque sempre tive claro que ele não era meu. se tem dez frases minhas lá é muito.
e ah
"vocês" são tão diferentes não se aplica. eu não sou a minha personagem. a minha personagem é o meu excesso e criação.
7. Que livro foi esse que você lançou em Portugal? Como foi?
não é um livro, é um conto em uma coletânea. aqui ó
http://www.webboom.pt/ficha.asp?id=78216
8. Você cita sua idolatria por John Fante, conta um pouco... Você se identifica com o personagem Arturo Bandini? Se quiser desenvolver, feel free.
ai, eu já falei demais nisso. dá uma lida aqui ó
http://brazileirapreta.blogspot.com/search?q=bandini
Por fim:
9. Como você definiria seu estilo literário?
jazz/blues/rock.
10. Quais são os escritores contemporâneos que você tem como referência?
antónio lobo antunes é o único cara que está vivo no momento. amigo conta também, né. tem o xico sá e o mário bortolotto, além do daniel pellizzari (gênio) e o danislau também, um poeta de uberlândia. dos mortos recentemente gosto do joão antônio e do leminski.
10b. quem você lê
tenho lido carmen da silva.
10c. quem você admira?
jesus cristo. mentira.
2o. email:
Quer falar sobre o intimismo do livro e da produção do Nossa Sra da Pequena Morte????
este foi o email que eu mandei pra convidar para o lançamento. aliás, vai ter outro no dia 4/10, com exposição dos originais. contei tudo assim, ó
....
oi, gente bonita.
não consegui mandar um email decente convidando todo mundo para o lançamento do que foi o livro mais complicado da minha vida. nunca nada demorou tanto. mas ficou incrível. primeiro eu e a eva viramos noites e noites pra fazer o livro. tudo à mão, nada de computador. teve até um momento que um vidro de nanquim virou em cima de alguns originais. teve a eva implicando com umas ilustrações e decidindo fazer outras melhores. teve eu batendo à máquina e errando na última linha e chorando. isso porque nem vou entrar no mérito de escrever os textos de fato. estamos falando apenas de passar a sujo. aí depois eu e o reginaldo chafurdamos nos melhores sebos de são paulo tentando encontrar discos que combinassem com o livro. tem dylan, ella, billie. tem chopin, verdi e mahler. tem mariachis, música grega e casamentos judaicos. tem o som do inferno verde, música ligeira dos países baixos e muito ray charles. tem a trilha de betty blue, da cor púrpura, de uma cilada para roger rabbit, de bagdad cafe. nunca pensei que conseguir 200 discos fosse tão difícil. deus, foi. sujamos os dedos nos sebos até hoje. hoje mesmo, dia 10, um dia antes do lançamento. 50 livros já foram vendidos. repetindo, são apenas 200. sem reedição, com exemplares numerados e assinados. livro de artista, como define a pinky wainer, a bispa herself. e amanhã vai ser o dia de botar isso tudo para fora. não publico um livro desde 2004. não queria ser uma dessas autoras que publica em linha de produção. por isso assim, discos escolhidos a dedo e tudo feito com muito sangue e coração. nada de digital. eu quero que o mundo volte a ser analógico. adoraria estar enviando esta correspondência em uma carta lacrada com aqueles selos de cêra. mas aí teria o problema de não poder selecionar todos os endereços que já usei no gmail para facilitar a vida.
(se você não for meu amigo, desconsidere esta mensagem. ou não.)
então, amiguinhos, compareçam no dia de amanhã. eu e a eva estaremos lá praticando a arte de fazer a social. aproveitem - é raro.
um abracinho,
c.
....
Ainda sobre o filme, se vc quiser desenvolver: vc acabou não se descolando do filme, levou a bandeira e ajudou a divulgar até o fim, isso foi generosidade? o que te moveu??? pq ao meu ver ficou muito clara sua discordância com o Murilo.
o filme foi feito com baixo orçamento e a divulgação foi toda feita pela internet. nisso eu tentei ajudar, apesar de não mexer no blog. como eu disse, gosto do filme enquanto obra à parte da minha. concordando ou não com a adaptação, há um fato: o filme foi baseado em obras minhas - ainda que o produto final tenha pouco a ver - e todo mundo ia ficar relacionando a mim e aos meus escritos, naquela confusão que adoram fazer com autor e personagem. me mantive presente porque queria deixar claro que o filme não era "o meu" filme, tampouco a história da minha vida ou de como eu comecei a escrever, que aqueles textos que aparecem na tela não são meus e que os livros eram diferentes do filme. eu não tive atritos com o murilo porque ficou sempre muito claro que ele faria algo distante dos livros, portanto ele deveria estar pronto para que eu expusesse minha opinião sobre a obra dele.
Vc desdenha estar entre escritores ingleses? eu acho o máximo, parabéns,
eu acho ótimo ser lançada num lugar onde as pessoas não ficam julgando os escritores por onde eles começaram a publicar ou por quantas tatuagens eles têm ou quanto eles bebem. não desdenho nada, só não tenho o hábito e nem muita vontade de ficar dissertando sobre essas coisas.
agora a entrevista publicada:
Como aconteceu de Vida de Gato ser lançado no exterior?
O Vida de Gato é o meu terceiro livro. Publiquei um capítulo na revista 3AM e a editora Creation Books se interessou. Basicamente é isso.
Não te excita ser publicada entre outros jovens escritores ingleses?
Nah.
Que desdém. Não te parece ótimo?
Eu acho ótimo ser lançada num lugar onde as pessoas não ficam julgando os escritores por onde eles começaram a publicar ou por quantas tatuagens eles têm ou quanto eles bebem. Não desdenho nada, só não tenho o hábito e nem muita vontade de ficar dissertando sobre essas coisas.
Right. Você se considera uma autora maldita? Referem-se a você como uma ‘escritora de atitude punk’.
Acho uma bobagem esse negócio de maldito. Atitude punk é uma coisa meio antiga também. Eu só faço as coisas que eu acredito do jeito que eu acho que devem ser feitas, não acho que exista maldição e nem punkismo nenhum nisso. Se pra isso precisar atrasar as contas todo mês, tudo bem.
Você se acha mal compreendida pelos críticos?
Alguns entendem, outros não entendem, outros não gostam mesmo, outros amam. Crítico pra mim é só um cara com uma opinião. Isso não me afeta.
Como você define seu estilo literário?
Jazz/Blues/Rock.
O sucesso te seduz? Ter mais leitores, entrar no sistema... Ou bancar a vida indie vale mais a pena?
Me interessa ganhar na Mega-Sena. Não me interessa ter mais leitores porque ninguém nunca entende nada - aqui no Brasil todo mundo tem muita pressa de julgar e rotular tudo sem nem conhecer. Eu quero ganhar dinheiro suficiente pra bancar a minha vida com coisas que não afetem a minha integridade. Se não for do meu jeito eu não faço - meu jeito pode até ser negociável, mas se eu me sentir ferida, não vou fazer. Uma coisa boa, por exemplo, foi ser selecionada no Petrobras Cultural e ganhar pra escrever um livro. Isso sim é vida.
Como é sua relação com o filme 'Nome Próprio' (adaptação de Murilo Salles, dos livros Máquina de Pinball e Vida de Gato, com Leandra Leal)? Você tem apego à personagem principal? Gostou da forma como foi retratada?
Não tenho apego nenhum. Eu não sou a minha personagem. A minha personagem é o meu excesso e criação. O filme é uma adaptação do diretor. A diferença entre as Camilas é que a do filme é desprovida de senso de humor. O filme foi feito por uma pessoa de outra geração, que é mais adepta do discurso do que da ação e não sacou algumas coisas. Mas é assim mesmo, é uma adaptação - quem vende os direitos está sujeito a isso. Acho a atuação da Leandra primorosa e gosto do filme enquanto filme, à parte da minha obra. Não tenho apego nenhum com o filme porque sempre tive claro que ele não era meu. Se tem dez frases minhas lá, é muito.
Pelo que vi você procurou descolar o tempo todo a sua obra do filme, por que você fez questão de participar do lançamento e levantar a bandeira do filme?
O filme foi feito com baixo orçamento e a divulgação foi toda feita pela internet. Nisso eu tentei ajudar. Como disse, gosto do filme enquanto obra à parte da minha. Concordando ou não com a adaptação, há um fato: o filme foi baseado em obras minhas - ainda que o produto final tenha pouco a ver - e todo mundo ia ficar relacionando a mim e aos meus escritos, naquela confusão que adoram fazer com autor e personagem. Me mantive presente porque queria deixar claro que o filme não era "o meu" filme, tampouco a história da minha vida ou de como eu comecei a escrever, que aqueles textos que aparecem na tela não são meus e que os livros eram diferentes do filme.
Você teve atritos com o Murilo Salles?
Eu não tive atritos com o Murilo porque ficou sempre muito claro que ele faria algo distante dos livros, portanto ele deveria estar pronto para que eu expusesse minha opinião sobre a obra dele.
Voltando aos livros, o ‘Nossa Senhora da Pequena Morte’ (ed. do Bispo) é bem intimista, não? Inclusive pela tiragem...
São apenas 200 exemplares. Sem reedição, numerados e assinados. Livro de artista, como define a Pinky Wainer, a bispa herself ( a Publisher da editora do Bispo).
Não queria ser uma dessas autoras que publica em linha de produção. Nada de digital. Eu quero que o mundo volte a ser analógico.
Foi o livro mais complicado da minha vida. Nunca nada demorou tanto. Mas ficou incrível. Eu e a Eva viramos noites e noites pra fazê-lo. Tudo à mão, nada de computador. Teve momentos que um vidro de nanquim virou em cima de alguns originais ou eu batendo à máquina e errando na última linha, e chorando. Isso porque nem vou entrar no mérito de escrever os textos de fato. Estamos falando apenas de passar a sujo.
Por fim: quais são os escritores contemporâneos que você tem como referência?
António Lobo Antunes que é o único cara que está vivo no momento. Amigo conta também, né? Tem o Xico Sá e o Mário Bortolotto, além do Daniel Pellizzari, que é um gênio, e o Danislau também, um poeta de Uberlândia. Dos mortos recentemente, gosto do João Antônio e do Leminski.
Quem você lê?
Tenho lido Carmen da Silva.
E quem você admira?
Jesus Cristo. Mentira.
nem vou comentar item por item. não sei como é com outrem, mas a minha resposta é específica para a pergunta que me foi feita. se mudam a pergunta depois de obter a resposta não dá pra acreditar em nada. já aconteceu mil vezes e vai acontecer mais mil, enquanto existirem entrevitadores e entrevistados. perceba quem for capaz.
isso foi o que me perguntaram:
1. queria que vc contasse sobre o Vida de Gato, um dos seus primeiros livros, como rolou de publicá-lo em inglês (editora, como chegaram até você, o que vocês espera disso, e como vai ser a divulgação);
o vida de gato é o meu terceiro livro. acabei de lançar o quarto, nossa senhora da pequena morte, pela editora do bispo. publiquei um capítulo na revista 3AM e a editora creation books se interessou. basicamente é isso.
2. bela responsa estar entre escritores ingleses, você gostaria de comparar a literatura 'jovem escritores ingleses' X jovens escritores brasileiros?
nah.
3.Você se considera uma autora maldita? Do tipo marginal? Porque bem ou mal, pelo que vejo o que vc faz, tem atitude, diria, punk.
acho uma bobagem esse negócio de maldito. atitude punk é uma coisa meio antiga também. eu só faço as coisas que eu acredito do jeito que eu acho que devem ser feitas, não acho que exista maldição e nem punkismo nenhum nisso. se pra isso precisar atrasar as contas todo mês, tudo bem.
3b. O sucesso te seduz? Te interessa entrar no sistema?, Que porta você quer entrar no sistema? sabendo que para tudo tem um preço... ou bancar a vida indie vale mais a pena? Em outras palavras, jogar o jogo do sistema e quem sabe ter mais leitores, te parece uma bom caminho / boa opção?
me interessa ganhar na megasena. não me interessa ter mais leitores porque ninguém nunca entende nada - aqui no brasil todo mundo tem muita pressa de julgar e rotular tudo sem nem conhecer. eu quero ganhar dinheiro suficiente pra bancar a minha vida com coisas que não afetem a minha integridade. se não for do meu jeito eu não faço - meu jeito pode até ser negociável, mas se eu me sentir ferida, não vou fazer. uma coisa boa, por exemplo, foi ser selecionada no petrobras cultural e ganhar pra escrever um livro. isso sim é vida.
4. Você acha sua geração muito careta?
eu não acredito em geração. o mundo está segmentado demais para ainda ter essa divisão.
5. E os críticos? Quão compreendida você acha que é, ou não és?
alguns entendem, outros não entendem, outros não gostam mesmo, outros amam. crítico pra mim é só um cara com uma opinião. isso não me afeta.
6. Como foi ou como é sua relação com o filme 'Nome próprio'? Você tem apego a personagem principal? O jeito como a Camila foi retratada, (ou interpretada) você gostou ou não? Pelo que vi, você procurou se distanciar da Camila do filme, por alguma razão específica? Por que vocês são tão diferentes?
não tenho apego nenhum. meus são os livros, o filme é uma adaptação do diretor. a diferença entre as camilas é que a do filme é desprovida de senso de humor. o filme foi feito por uma pessoa de outra geração, que é mais adepta do discurso do que da ação e não sacou algumas coisas. mas é assim mesmo, é uma adaptação - quem vende os direitos está sujeito a isso. acho a atuação da leandra primorosa e gosto do filme enquanto filme, à parte da minha obra. não tenho apego nenhum com o filme porque sempre tive claro que ele não era meu. se tem dez frases minhas lá é muito.
e ah
"vocês" são tão diferentes não se aplica. eu não sou a minha personagem. a minha personagem é o meu excesso e criação.
7. Que livro foi esse que você lançou em Portugal? Como foi?
não é um livro, é um conto em uma coletânea. aqui ó
http://www.webboom.pt/ficha.asp?id=78216
8. Você cita sua idolatria por John Fante, conta um pouco... Você se identifica com o personagem Arturo Bandini? Se quiser desenvolver, feel free.
ai, eu já falei demais nisso. dá uma lida aqui ó
http://brazileirapreta.blogspot.com/search?q=bandini
Por fim:
9. Como você definiria seu estilo literário?
jazz/blues/rock.
10. Quais são os escritores contemporâneos que você tem como referência?
antónio lobo antunes é o único cara que está vivo no momento. amigo conta também, né. tem o xico sá e o mário bortolotto, além do daniel pellizzari (gênio) e o danislau também, um poeta de uberlândia. dos mortos recentemente gosto do joão antônio e do leminski.
10b. quem você lê
tenho lido carmen da silva.
10c. quem você admira?
jesus cristo. mentira.
2o. email:
Quer falar sobre o intimismo do livro e da produção do Nossa Sra da Pequena Morte????
este foi o email que eu mandei pra convidar para o lançamento. aliás, vai ter outro no dia 4/10, com exposição dos originais. contei tudo assim, ó
....
oi, gente bonita.
não consegui mandar um email decente convidando todo mundo para o lançamento do que foi o livro mais complicado da minha vida. nunca nada demorou tanto. mas ficou incrível. primeiro eu e a eva viramos noites e noites pra fazer o livro. tudo à mão, nada de computador. teve até um momento que um vidro de nanquim virou em cima de alguns originais. teve a eva implicando com umas ilustrações e decidindo fazer outras melhores. teve eu batendo à máquina e errando na última linha e chorando. isso porque nem vou entrar no mérito de escrever os textos de fato. estamos falando apenas de passar a sujo. aí depois eu e o reginaldo chafurdamos nos melhores sebos de são paulo tentando encontrar discos que combinassem com o livro. tem dylan, ella, billie. tem chopin, verdi e mahler. tem mariachis, música grega e casamentos judaicos. tem o som do inferno verde, música ligeira dos países baixos e muito ray charles. tem a trilha de betty blue, da cor púrpura, de uma cilada para roger rabbit, de bagdad cafe. nunca pensei que conseguir 200 discos fosse tão difícil. deus, foi. sujamos os dedos nos sebos até hoje. hoje mesmo, dia 10, um dia antes do lançamento. 50 livros já foram vendidos. repetindo, são apenas 200. sem reedição, com exemplares numerados e assinados. livro de artista, como define a pinky wainer, a bispa herself. e amanhã vai ser o dia de botar isso tudo para fora. não publico um livro desde 2004. não queria ser uma dessas autoras que publica em linha de produção. por isso assim, discos escolhidos a dedo e tudo feito com muito sangue e coração. nada de digital. eu quero que o mundo volte a ser analógico. adoraria estar enviando esta correspondência em uma carta lacrada com aqueles selos de cêra. mas aí teria o problema de não poder selecionar todos os endereços que já usei no gmail para facilitar a vida.
(se você não for meu amigo, desconsidere esta mensagem. ou não.)
então, amiguinhos, compareçam no dia de amanhã. eu e a eva estaremos lá praticando a arte de fazer a social. aproveitem - é raro.
um abracinho,
c.
....
Ainda sobre o filme, se vc quiser desenvolver: vc acabou não se descolando do filme, levou a bandeira e ajudou a divulgar até o fim, isso foi generosidade? o que te moveu??? pq ao meu ver ficou muito clara sua discordância com o Murilo.
o filme foi feito com baixo orçamento e a divulgação foi toda feita pela internet. nisso eu tentei ajudar, apesar de não mexer no blog. como eu disse, gosto do filme enquanto obra à parte da minha. concordando ou não com a adaptação, há um fato: o filme foi baseado em obras minhas - ainda que o produto final tenha pouco a ver - e todo mundo ia ficar relacionando a mim e aos meus escritos, naquela confusão que adoram fazer com autor e personagem. me mantive presente porque queria deixar claro que o filme não era "o meu" filme, tampouco a história da minha vida ou de como eu comecei a escrever, que aqueles textos que aparecem na tela não são meus e que os livros eram diferentes do filme. eu não tive atritos com o murilo porque ficou sempre muito claro que ele faria algo distante dos livros, portanto ele deveria estar pronto para que eu expusesse minha opinião sobre a obra dele.
Vc desdenha estar entre escritores ingleses? eu acho o máximo, parabéns,
eu acho ótimo ser lançada num lugar onde as pessoas não ficam julgando os escritores por onde eles começaram a publicar ou por quantas tatuagens eles têm ou quanto eles bebem. não desdenho nada, só não tenho o hábito e nem muita vontade de ficar dissertando sobre essas coisas.
agora a entrevista publicada:
Como aconteceu de Vida de Gato ser lançado no exterior?
O Vida de Gato é o meu terceiro livro. Publiquei um capítulo na revista 3AM e a editora Creation Books se interessou. Basicamente é isso.
Não te excita ser publicada entre outros jovens escritores ingleses?
Nah.
Que desdém. Não te parece ótimo?
Eu acho ótimo ser lançada num lugar onde as pessoas não ficam julgando os escritores por onde eles começaram a publicar ou por quantas tatuagens eles têm ou quanto eles bebem. Não desdenho nada, só não tenho o hábito e nem muita vontade de ficar dissertando sobre essas coisas.
Right. Você se considera uma autora maldita? Referem-se a você como uma ‘escritora de atitude punk’.
Acho uma bobagem esse negócio de maldito. Atitude punk é uma coisa meio antiga também. Eu só faço as coisas que eu acredito do jeito que eu acho que devem ser feitas, não acho que exista maldição e nem punkismo nenhum nisso. Se pra isso precisar atrasar as contas todo mês, tudo bem.
Você se acha mal compreendida pelos críticos?
Alguns entendem, outros não entendem, outros não gostam mesmo, outros amam. Crítico pra mim é só um cara com uma opinião. Isso não me afeta.
Como você define seu estilo literário?
Jazz/Blues/Rock.
O sucesso te seduz? Ter mais leitores, entrar no sistema... Ou bancar a vida indie vale mais a pena?
Me interessa ganhar na Mega-Sena. Não me interessa ter mais leitores porque ninguém nunca entende nada - aqui no Brasil todo mundo tem muita pressa de julgar e rotular tudo sem nem conhecer. Eu quero ganhar dinheiro suficiente pra bancar a minha vida com coisas que não afetem a minha integridade. Se não for do meu jeito eu não faço - meu jeito pode até ser negociável, mas se eu me sentir ferida, não vou fazer. Uma coisa boa, por exemplo, foi ser selecionada no Petrobras Cultural e ganhar pra escrever um livro. Isso sim é vida.
Como é sua relação com o filme 'Nome Próprio' (adaptação de Murilo Salles, dos livros Máquina de Pinball e Vida de Gato, com Leandra Leal)? Você tem apego à personagem principal? Gostou da forma como foi retratada?
Não tenho apego nenhum. Eu não sou a minha personagem. A minha personagem é o meu excesso e criação. O filme é uma adaptação do diretor. A diferença entre as Camilas é que a do filme é desprovida de senso de humor. O filme foi feito por uma pessoa de outra geração, que é mais adepta do discurso do que da ação e não sacou algumas coisas. Mas é assim mesmo, é uma adaptação - quem vende os direitos está sujeito a isso. Acho a atuação da Leandra primorosa e gosto do filme enquanto filme, à parte da minha obra. Não tenho apego nenhum com o filme porque sempre tive claro que ele não era meu. Se tem dez frases minhas lá, é muito.
Pelo que vi você procurou descolar o tempo todo a sua obra do filme, por que você fez questão de participar do lançamento e levantar a bandeira do filme?
O filme foi feito com baixo orçamento e a divulgação foi toda feita pela internet. Nisso eu tentei ajudar. Como disse, gosto do filme enquanto obra à parte da minha. Concordando ou não com a adaptação, há um fato: o filme foi baseado em obras minhas - ainda que o produto final tenha pouco a ver - e todo mundo ia ficar relacionando a mim e aos meus escritos, naquela confusão que adoram fazer com autor e personagem. Me mantive presente porque queria deixar claro que o filme não era "o meu" filme, tampouco a história da minha vida ou de como eu comecei a escrever, que aqueles textos que aparecem na tela não são meus e que os livros eram diferentes do filme.
Você teve atritos com o Murilo Salles?
Eu não tive atritos com o Murilo porque ficou sempre muito claro que ele faria algo distante dos livros, portanto ele deveria estar pronto para que eu expusesse minha opinião sobre a obra dele.
Voltando aos livros, o ‘Nossa Senhora da Pequena Morte’ (ed. do Bispo) é bem intimista, não? Inclusive pela tiragem...
São apenas 200 exemplares. Sem reedição, numerados e assinados. Livro de artista, como define a Pinky Wainer, a bispa herself ( a Publisher da editora do Bispo).
Não queria ser uma dessas autoras que publica em linha de produção. Nada de digital. Eu quero que o mundo volte a ser analógico.
Foi o livro mais complicado da minha vida. Nunca nada demorou tanto. Mas ficou incrível. Eu e a Eva viramos noites e noites pra fazê-lo. Tudo à mão, nada de computador. Teve momentos que um vidro de nanquim virou em cima de alguns originais ou eu batendo à máquina e errando na última linha, e chorando. Isso porque nem vou entrar no mérito de escrever os textos de fato. Estamos falando apenas de passar a sujo.
Por fim: quais são os escritores contemporâneos que você tem como referência?
António Lobo Antunes que é o único cara que está vivo no momento. Amigo conta também, né? Tem o Xico Sá e o Mário Bortolotto, além do Daniel Pellizzari, que é um gênio, e o Danislau também, um poeta de Uberlândia. Dos mortos recentemente, gosto do João Antônio e do Leminski.
Quem você lê?
Tenho lido Carmen da Silva.
E quem você admira?
Jesus Cristo. Mentira.
nem vou comentar item por item. não sei como é com outrem, mas a minha resposta é específica para a pergunta que me foi feita. se mudam a pergunta depois de obter a resposta não dá pra acreditar em nada. já aconteceu mil vezes e vai acontecer mais mil, enquanto existirem entrevitadores e entrevistados. perceba quem for capaz.