OS DOIS LADOS DA MOEDA
* Texto publicado na revista Simples, em 1947
Nunca acreditei muito nesse papo de geração enquanto selo estilístico. Todos em todas as gerações sempre foram muito diferentes entre si, desde a Beat Generation – um monte de amigos passando por coisas e escrevendo cada um de seu jeito muito particular – até a nossa. Nossa, minha. Mas isso é minha (não nossa) mania, creio eu. Pediram para eu falar da nova geração de escritores, então vou contar a minha história que engloba outros e acho que foi onde tudo começou. Ou pelo menos uma parte de tudo. Ficar citando e garimpando nomes não adianta muito, então prefiro ir direto à raiz.
Era uma vez o CardosOnline, um e-zine só texto – sem html, sem frescura nem nada, mandado por email duas vezes por semana – que deu quatro crias literárias até agora: eu (sim, eu, Clarah, prazer), Daniel Galera, Daniel Pellizzari e Cardoso, que na verdade se chama André Czarnobai e a história do apelido você vai ter que perguntar para ele. A diferença começa por aí: era um e-zine, não um fanzine desses de faculdade, editado com muito suor. Aliás, nós não estávamos nem na mesma faculdade. A maneira como as coisas acontecem já é muito diferente: sim, nós nos encontrávamos mas cada um ficava ali na sua casa, escrevia sua coluna e mandava para o Cardoso, o único que suava de verdade. “Escritores de Internet”, eles dizem, e eu digo aiai. Pode ser. Aí depois de três anos e cinco mil assinantes, que ninguém nunca soube explicar de onde vieram, acabou o e-zine, foi cada um para o seu lado e veio a praga do blog, que eu ajudei a disseminar. Eles não, mas acabaram todos no mesmo bolo, blog, site, e-zine, ficou tudo no mesmo saco, era Internet, não era? Então fim. E eu nunca mais me livrei desse estigma. Como se o meio importasse mais do que o conteúdo. O que importa, ou deveria importar, é o quê está escrito, não onde.
Repetindo, repetindo o que já disse tantas vezes, blog não é um estilo, tampouco uma tendência. É um meio, assim como um site ou uma revista on-line. A diferença é o formato, não o estilo, nem tudo é em primeira pessoa, muito embora eu acredite piamente que falando de nós mesmos chegamos muito mais aos outros do que falando dos outros sem propriedade. A diferença e a coisa boa também é que quem escolhe o autor são os leitores, não há intermediários entre os dois. Não há editores, não há diplomas envolvidos, não há burocracia e, principalmente, não há custo; independe de mídia, de puxa-saquismo de jornalistas, de qualquer artifício desses de lavagem cerebral. E a coisa ruim é a mesma: de repente todas as opiniões que não deveriam sair da mesa do bar estão lá, escritas e comentadas como se valessem a pena. Todo mundo é um escritor. “Quando alguém não sabe fazer mais nada, vai ser cantor, como diriam aqueles que não sabem cantar”, já falou o Jumento dos Saltimbancos. Mas tudo bem, a vida é muito fácil, é simplesmente não acessar. O Larry Flynt dizia que democracia não é falar o que quer, é ouvir o que não quer. E não há nada mais democrático do que a Internet.
Mas se você quer mesmo saber, não acredito que as editoras saiam caçando talentos Internet afora, ou adentro. O que acontece é que os leitores exercem sua função e o escritor, por assim dizer – porque ninguém sabe que é um escritor até escrever – começa a ver que aquilo ali pode tornar-se sua vida. Não seu sustento, porque estamos no Brasil, vamos combinar de ninguém ganha dinheiro com livros, talvez com os frutos, mas nunca com os livros. Aliás, eu não concordo nem um pouco com essa teoria de que em breve os livros estarão extintos por causa da Internet. Nada, eu digo nada se compara ao papel, ao cheiro, à textura, ao prazer de pegar algo, um certo fetiche. Não dá pra pegar nada na Internet, só vírus. E alguma experiência que pode ser usada ao nosso favor. Comigo foi assim. Talvez as gerações futuras leiam isso tudo e achem um absurdo, mas que diabos, eu não sou a geração futura. Eu sou agora. Eu e os outros todos, vindos da Internet ou não. Porque o que importa está escrito, não interessa aonde.
Nunca acreditei muito nesse papo de geração enquanto selo estilístico. Todos em todas as gerações sempre foram muito diferentes entre si, desde a Beat Generation – um monte de amigos passando por coisas e escrevendo cada um de seu jeito muito particular – até a nossa. Nossa, minha. Mas isso é minha (não nossa) mania, creio eu. Pediram para eu falar da nova geração de escritores, então vou contar a minha história que engloba outros e acho que foi onde tudo começou. Ou pelo menos uma parte de tudo. Ficar citando e garimpando nomes não adianta muito, então prefiro ir direto à raiz.
Era uma vez o CardosOnline, um e-zine só texto – sem html, sem frescura nem nada, mandado por email duas vezes por semana – que deu quatro crias literárias até agora: eu (sim, eu, Clarah, prazer), Daniel Galera, Daniel Pellizzari e Cardoso, que na verdade se chama André Czarnobai e a história do apelido você vai ter que perguntar para ele. A diferença começa por aí: era um e-zine, não um fanzine desses de faculdade, editado com muito suor. Aliás, nós não estávamos nem na mesma faculdade. A maneira como as coisas acontecem já é muito diferente: sim, nós nos encontrávamos mas cada um ficava ali na sua casa, escrevia sua coluna e mandava para o Cardoso, o único que suava de verdade. “Escritores de Internet”, eles dizem, e eu digo aiai. Pode ser. Aí depois de três anos e cinco mil assinantes, que ninguém nunca soube explicar de onde vieram, acabou o e-zine, foi cada um para o seu lado e veio a praga do blog, que eu ajudei a disseminar. Eles não, mas acabaram todos no mesmo bolo, blog, site, e-zine, ficou tudo no mesmo saco, era Internet, não era? Então fim. E eu nunca mais me livrei desse estigma. Como se o meio importasse mais do que o conteúdo. O que importa, ou deveria importar, é o quê está escrito, não onde.
Repetindo, repetindo o que já disse tantas vezes, blog não é um estilo, tampouco uma tendência. É um meio, assim como um site ou uma revista on-line. A diferença é o formato, não o estilo, nem tudo é em primeira pessoa, muito embora eu acredite piamente que falando de nós mesmos chegamos muito mais aos outros do que falando dos outros sem propriedade. A diferença e a coisa boa também é que quem escolhe o autor são os leitores, não há intermediários entre os dois. Não há editores, não há diplomas envolvidos, não há burocracia e, principalmente, não há custo; independe de mídia, de puxa-saquismo de jornalistas, de qualquer artifício desses de lavagem cerebral. E a coisa ruim é a mesma: de repente todas as opiniões que não deveriam sair da mesa do bar estão lá, escritas e comentadas como se valessem a pena. Todo mundo é um escritor. “Quando alguém não sabe fazer mais nada, vai ser cantor, como diriam aqueles que não sabem cantar”, já falou o Jumento dos Saltimbancos. Mas tudo bem, a vida é muito fácil, é simplesmente não acessar. O Larry Flynt dizia que democracia não é falar o que quer, é ouvir o que não quer. E não há nada mais democrático do que a Internet.
Mas se você quer mesmo saber, não acredito que as editoras saiam caçando talentos Internet afora, ou adentro. O que acontece é que os leitores exercem sua função e o escritor, por assim dizer – porque ninguém sabe que é um escritor até escrever – começa a ver que aquilo ali pode tornar-se sua vida. Não seu sustento, porque estamos no Brasil, vamos combinar de ninguém ganha dinheiro com livros, talvez com os frutos, mas nunca com os livros. Aliás, eu não concordo nem um pouco com essa teoria de que em breve os livros estarão extintos por causa da Internet. Nada, eu digo nada se compara ao papel, ao cheiro, à textura, ao prazer de pegar algo, um certo fetiche. Não dá pra pegar nada na Internet, só vírus. E alguma experiência que pode ser usada ao nosso favor. Comigo foi assim. Talvez as gerações futuras leiam isso tudo e achem um absurdo, mas que diabos, eu não sou a geração futura. Eu sou agora. Eu e os outros todos, vindos da Internet ou não. Porque o que importa está escrito, não interessa aonde.