Thursday, April 05, 2007

Refluxo de Coração

No começo funcionou. Eu tinha que tentar. E funcionou, funcionou mesmo e eu jurei que, além de você estar morto, meu período de luto havia acabado. Experimentei dias de alegria e algo que posso quase chamar de felicidade. Ou posso mesmo, porque felicidade é isso aí: os vinte e sete segundos antes do teto desabar na sua cabeça. Um dia eu acordei e não estava mais lá. Nem eu, nem ele, nem nada daquilo que eu já estava julgando meu presente. Só tinha você. Você de novo. Você naqueles dias castos. Você naqueles dias sujos. Você naqueles dias de paranóia, nos dias de cortina fechada, nos dias tão perto do fim, quando eu ainda acreditava. Fechei os olhos cheios e te desapareci. Pensei, seu filho da puta, sai da minha casa, sai do meu quarto, volta pro seu novo velho mundo, me deixa quieta, me deixa aqui, me deixa, me deixa. Foi tão fácil me deixar, então me deixa de novo. Dormi assim, de manhã cedo, os olhos apertados e os dentes cerrados. Não sonhei. Quando acordei, você tinha me obedecido. Mas agora eu sei que você vai voltar. Eu não quero ter mais um fantasma, eu não queria, eu não quero. Vinte e sete segundos. Timeout blues. Eu tinha esquecido que era assim. Mas é assim que é.


 
 

TUDO TINHA MUDADO. Menos o que ficou igual.

  • Vida de gato
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senso*