ESTOL DESBOTAMDO

Ontem à noite.
Catarina tomando banho, se divertindo.
Fui até o espelho ver se o meu cabelo precisava da Helaine, já fazia um tempinho e eu estava com a impressão de que estava amarelando.
Então eu vi. Olhei de novo. OLHEI DE NOVO. E NÃO ACREDITEI.
UM CABELO BRANCO. UMA PORRA DE UM CABELO BRANCO.
Corri até a sala.
Apontei para a cabeça:
"OLHA AQUI, EU TENHO UM CABELO BRANCO!"
Ele via um documentário sobre o Nelson Rodrigues na Cultura. "Olha o Nelson"
"FODA-SE O NELSON, EU TENHO UM CABELO BRANCO!!!"
Sem desviar os olhos da tv, ele mandou: "eu sei, já tinha visto."
Em histeria, voltei ao banheiro. Peguei uma pinça, arranquei a porra do cabelo. O espelho já estava meio embaçado por causa do banho da Catarina. Esfreguei com medo. Respirei fundo. E comecei a chafurdar na franja. Se havia mais algum, ele tinha que ir. Ele e todos os amigos dele. E TINHA. MAIS UM. E OUTRO, E MAIS OUTRO.
Corri até a sala de novo.
"EU TENHO UM MONTE DE CABELOS BRANCOS!!!"
"Tô ligado. Olha, o Mário tá falando."
"NADA MAIS ME IMPORTA! EU TÔ CHEIA DE CABELOS BRANCOS!!! ESTOL DESBOTAMMMMDO"
Voltei ao banheiro e arranquei-os, um a um. Isso antes de saber que se eles forem arrancados, chamam reforços. Guardei o primeiro deles em um saquinho e já marquei horário na Helaine. Estou tentando bravamente não entrar em crise. São apenas cabelos brancos. É normal, eu tenho quase trinta anos e algumas pessoas têm cabelos brancos desde os dezessete. Está tudo certo, a minha bunda é empinada e, segundo depoimentos, eu tenho a pele alabastrina. Está tudo certo

ESTOL DESBOTAMMMMDOOOOOOOOOOOOOOOOO