não fosse isso / e era menos / não fosse tanto / e era quase
não tenho mais tempo para silêncios.
não tenho mais tempo e nem paciência para silêncios.
não tenho mais paciência para sofrer no chão da cozinha.
essa repetição um dia dá no saco.
espano o cabelo com as mãos, separo os cachinhos bagunçados, escolho uma roupa e vou para a vida, então.
antes escuto saltimbancos com a minha filha e ela ama a mesma que eu amava. nós gatos já nascemos pobres, porém, já nascemos livres. ouve mil vezes e canta junto. eu também. me emociono, quase às lágrimas. recorto os bichos da capa da arca de noé, tão menores que os do vinil. tão parecida comigo, meu espelho, aqueles olhos de jaboticaba, aqueles cílios curvados, a boquinha inquieta, nunca pensei que passaria por isso. mas passo.
nunca pensei que passaria por uma porrada de coisas. mas está tudo aí. como era, não podemos fugir de nós mesmos? era. é. como o polaco dizia mesmo?
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
eu tenho a minha filha, eu tenho isso aqui e o resto, eu tenho os meus amigos e as minhas músicas e aquelas bebidinhas. eu tenho que escrever uns textos e checar uns extratos de banco, tenho que marcar umas entrevistas para outrem, tenho que comprar sacos de lixo e lâmpadas e terra para as novas gatas que virão: amy e nico. tenho uma foto agora às duas. tenho que cuidar das minhas amigas. tenho que incendiar o fim-de-semana. tenho que, aiai. fazer isso tudo funcionar muito bem.
Já disse de nós.
Já disse de mim.
Já disse do mundo.
Já disse agora,
eu que já disse nunca.
Todo mundo sabe,
eu já disse muito.
Tenho a impressão
que já disse tudo.
E tudo foi tão de repente.
(tudo Leminski, os poemas. Tudo de mim, o resto.)
não tenho mais tempo e nem paciência para silêncios.
não tenho mais paciência para sofrer no chão da cozinha.
essa repetição um dia dá no saco.
espano o cabelo com as mãos, separo os cachinhos bagunçados, escolho uma roupa e vou para a vida, então.
antes escuto saltimbancos com a minha filha e ela ama a mesma que eu amava. nós gatos já nascemos pobres, porém, já nascemos livres. ouve mil vezes e canta junto. eu também. me emociono, quase às lágrimas. recorto os bichos da capa da arca de noé, tão menores que os do vinil. tão parecida comigo, meu espelho, aqueles olhos de jaboticaba, aqueles cílios curvados, a boquinha inquieta, nunca pensei que passaria por isso. mas passo.
nunca pensei que passaria por uma porrada de coisas. mas está tudo aí. como era, não podemos fugir de nós mesmos? era. é. como o polaco dizia mesmo?
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
eu tenho a minha filha, eu tenho isso aqui e o resto, eu tenho os meus amigos e as minhas músicas e aquelas bebidinhas. eu tenho que escrever uns textos e checar uns extratos de banco, tenho que marcar umas entrevistas para outrem, tenho que comprar sacos de lixo e lâmpadas e terra para as novas gatas que virão: amy e nico. tenho uma foto agora às duas. tenho que cuidar das minhas amigas. tenho que incendiar o fim-de-semana. tenho que, aiai. fazer isso tudo funcionar muito bem.
Já disse de nós.
Já disse de mim.
Já disse do mundo.
Já disse agora,
eu que já disse nunca.
Todo mundo sabe,
eu já disse muito.
Tenho a impressão
que já disse tudo.
E tudo foi tão de repente.
(tudo Leminski, os poemas. Tudo de mim, o resto.)