Monday, November 12, 2007

pó de tijolo

não importa quantas vezes eu me mude, não importa quanto tempo eu more no apartamento - quatro meses ou quatro anos -, não importa o que aconteça, vai chegar o momento em que o zelador ou similar diz: dona clarah, precisamos trocar a coluna do banheiro. aconteceu em todos os lugares onde morei. minto, na rua purpurina não aconteceu, mas era uma realidade paralela, não conta. eu nem sei o que é a coluna do banheiro. mas sei que o processo é doloroso, barulhento e envolve muito, mas muito pó de tijolo e pegadas de havaianas pela casa. e agora é chegado este momento. o pedreiro - que sabe dos meus, digamos, desentendimentos com o zelador e é todo pianinho comigo - disse: dona clarah, vamos ter que trocar a coluna do banheiro, TIRAR A SUA BANHEIRA e colocar um box. EU NÂO QUERO UM BOX. quero minha banheira velha e manchada. tá bom assim. hoje eu cheguei e a minha banheira estava na rua. subi e pedi pra ele botar na sala pra mim. vou pintar de alguma cor e ficar com ela. sei lá, encher de almofadas? de gelo, quando fizer festas? é minha banheira e eu quero ela comigo. eu gosto de coisas velhas, não de coisas de alumínio e acrílico. mas não. não tenho uma opção. e hoje ele chegou às novemeia da manhã e quebrou meu banheiro inteiro. por dez dias terei que tomar banho na área de serviço, mais conhecida como banheiro dos gatos e lavanderia, e sair no frio e na chuva depois do banho quentinho. nem tão quentinho. enfim. eu quero me mudar. desisto. quero me mudar para um lugar com porteiro e um zelador que não sofra de delirium proprietarius. um lugar com uma pouco de vista, um pouco de céu, um pouco mais. chega de chão com merda de mil cães, chega de roubarem o som do carro das minhas amigas, chega de rua escura, chega de gravataí, chega disso. chega.

it's a new dawn, it's a new day, it's a new life for me.
and i'm feeling good.

well,
not that good,
but at least i feel something.

fora a raiva de ter que passar pelo pó de tijolo novamente.
e a raiva de ter adquirido outra linha da telefonica pra poder voltar a ter internet em casa e fazer os negócios andarem. mas em até cinco dias úteis, senhora.

that's life,
não é tão ruim assim,
quinta danislau chega e começa a balada literária e será tudo lindo e leve e feliz e eu nem vou me importar com essas bobagens de banheiro, banheira, nada disso vai importar e seremos, eu, ele, xico e todo o resto, as pessoas mais felizes do condado.

porque eu decidi que assim vai ser.
e fim.




até parece que existe isso. não existe fim. nem início. "apenas a infinita paixão da vida", disse ele. as coisas existem até pararem de existir. mas deixa eu fingir que tenho algum poder de decisão na grande palhaçada da vida.

e fim.


 
 

TUDO TINHA MUDADO. Menos o que ficou igual.

  • Vida de gato
  • Das coisas esquecidas atrás da estante : esgotado, procure nos sebos!
  • Máquina de Pinball
senso*