Wednesday, December 05, 2007

PROGRAMAÇÃO DE HOJE

Chuva.
Chuva chata.
Fiona Apple rolando.
Catarina dormindo um pouquinho.
(If there was a better way to go then it would find me, I can't help it - the road just rolls out behind me)
Os sujeitos que estragaram meu banheiro não apareceram. O cara pintou a parede pior do que a cara dele, o chuveiro está capenga, a tampa da privada está completamente arranhada, as tomadas estão pintadas e ele diz que "só falta o box". Vai fazer serviço porco assim na casa da senhora sua sogra, amigo. Mas enfim. É só um banheiro. Que eu não posso usar para tomar banho. Mas enfim.

Vamos à programação de hoje.

Eu já mencionei isso por aqui: sofro de Transtorno Bipolar, outrora conhecido como Psicose Maníaco-Depressiva. Creio que esse nome assustava e destruía famílias, então resolveram mudar para uma coisa mais leve. Só que não é leve. Prefiro o nome antigo, dá mais a dimensão do que é realmente sofrer disso. Demorei muito tempo para me acertar com um psiquiatra e tomei doze medicamentos diferentes até conseguir me equilibrar. Deu muita merda no caminho. Tinha insônia, aí me davam um hipnótico para dormir e o hipnótico me causava amnésia anterógrada, ou seja, eu tomava o remédio às dez da noite e esquecia o que tinha feito às seis da tarde. Uma beleza. Entre outras coisas. Mas o pior mesmo foi quando eu cometi a grande cagada de parar de tomar remédios. "Estou bem, vou parar de tomar remédio", era o que eu pensava, sem cogitar o óbvio: eu estava bem justamente porque estava tomando remédio. Aí eu parava e toda a merda voltava. Quando digo merda não me refiro a depressãozinha ou choro debaixo da cama. Me refiro a me atirar de carros em movimento "porque queria descer e a pessoa não parava" (esse era o meu raciocínio lógico na hora) ou peitar um sujeito armado achando que era a mulher-maravilha e tomar uma coronhada na cabeça que me fez levar vários pontos. Ainda bem que foi uma coronhada e não um tiro. Eu poderia ter morrido. Algumas vezes eu poderia ter morrido. Mas eu não morri; sou uma sortuda. Algumas vezes achei que os medicamentos afetavam a minha criatividade, mas é besteira. Estabilizadores de humor simplesmente me mantém longe da mania e da depressão. Ficar louca não é bom, não tem nenhum glamour e eu quero distância absoluta disso. Transtorno Bipolar não é cool.

Acho importante colocar essas coisas por vários motivos. Algumas pessoas têm medo de ir ao psiquiatra e ficam aí dementes pelas ruas, acabando com a própria vida e machucando e afastando as pessoas que amam. Procurar ajuda não é nem coisa de fraco e nem de louco, é simplesmente a coisa certa a se fazer. Mas pior do que isso são as pessoas que se acham "meio bipolares". Ninguém é meio bipolar. Você pode ser uma pessoa de extremos, mas isso não quer dizer que você seja bipolar. Bipolar extrapola os extremos. E é por isso que precisam de estabilizadores de humor. Pessoas normais precisam apenas de autocontrole. E isso não existe em uma pessoa com quadro bipolar. Eu não sou nenhum exemplo de equilíbrio, mas isso é parte da minha personalidade. Os excesso de desequilíbrio é cortado pelo estabilizador. Eu não deixo de sentir mais ou menos, simplesmente me livrei das reações desmedidas que tinha antes. Enfim, eu estou falando isso tudo porque hoje é o lançamento do documentário Fora de Foco, dirigido pela Silvia Segall e que conta com depoimentos de Antônio Cícero, Arnaldo Antunes, Mário Prata, Luciana Vendramini, Regina Casé, Eduardo Giannetti e desta que vos escreve. Teoricamente, era para ser um documentário sobre a felicidade (quem?), mas aborda TOC, distimia, depressão, bipolaridade e "a estranha vontade de ser feliz", como diz o texto do Contardo Calligaris no convite.

Bom, eu estarei lá.

(Enquanto eu escrevia isso os rapazes chegaram, instalaram o box e se foram. O box é horrível. Quero minha banheira.)


 
 

TUDO TINHA MUDADO. Menos o que ficou igual.

  • Vida de gato
  • Das coisas esquecidas atrás da estante : esgotado, procure nos sebos!
  • Máquina de Pinball
senso*