HAPPY ENDINGS - NO THEY NEVER BORED ME
Ontem eu acordei num susto e tinha sol, e as pessoas estavam de óculos escuros caminhando pela sala. E o dia continuou bonito o dia inteiro. Acho que foi o dia mais bonito que eu tive neste ano meio pesado e maldito. E nem aconteceu nada demais. Eu só fiquei andando por aí bem acompanhada, sendo levada pra lá e pra cá sem escolher nada e falando, falando, olhando pela janela e falando, o carro parado no trânsito e eu nem aí, sem nem perceber que tinha trânsito em volta de mim. Foda-se o trânsito. Ontem eu não estava nem aí. TUDO ESTAVA BEM. Eu não tinha sono, fome, dor, sede, nada, eu simplesmente queria estar exatamente onde eu estava. Eu só precisava dele e dos meus óculos de sol porque o dia estava ofuscando de tão fodidamente bonito. Fazia muito tempo, anos que eu não sentia aqui dentro essa iminência de algo grande. Grande para mim, não importa, grande de qualquer forma. A maior roubada de todos os tempos dos tempos, amém. A noite foi chegando, eu só queria que o tempo passasse num conta-gotas porque eu tive a sensação de nunca mais. Nirvana. Paz. Como assim? Não se consegue isso nem com drogas, nem com terapia, nem com o isolamento nas montanhas. O tempo voando e a noite chegando e junto com ela todo o peso dos outros. E lá estávamos nós no meio dos outros. E veio uma mácula. Não podia. Estragou tudo. Não podia. E aí ficou tudo esquisito, e eu deitei sozinha na minha cama, e a minha cama estava grande e desajeitada, e eu repeti pela milésima vez: que roubada, claraverbuck, que roubada.