Tuesday, January 23, 2007

BANHO DE IMERSÃO DE PASSADO

Eu tinha esquecido de umas coisas sobre Porto Alegre. Várias coisas. Porque eu sempre vinha aqui e fugia correndo. Muito passado, eu acho. Excesso de passado me assusta um pouco. Mas eu tinha esquecido de como eu gosto dos meus amigos que estão aqui, e de como eles me conhecem bem, e de como é aconchegante estar em um lugar assim onde as pessoas te conhecem bem e não ficam te julgando pelo que elas "ouviram falar" de você. Esses dias um moço me mandou um email dizendo que uma vez a gente pegou uma carona juntos mas que a minha "fama de louca" o deixou com um pé atrás e ele não falou comigo. Aqui não tem essas frescuras. Eu sou eu e pronto. E agora eu conheci umas pessoas novas e elas também são legais, e eu estou achando ótimo estar aqui e sair com eles e ver o pôr-do-sol no Guaíba aqui de cima da casa dos meus pais e comer as comidas vegetarianas deles e um xis-calota outro dia - deus, como eu queria a minha câmera para registrar aquilo - e tudo mais. Até está passando um pouco a sensação de que os gaúchos não sabem que perderam a Guerra dos Farrapos e acham que estão em outro país. Mas tem uma coisa que não muda aqui, e que por mais que eu adore os meus amigos, poucos deles se salvam disso: gaúcho é machista. Céus, a tensão nos ombros que isso me causa. Aí eu tenho que passar de novo por tudo aquilo que eu passei na minha adolescência de ter que tirar a faca da bota, sabe, e é chato, porque eu tinha parado de passar por isso fazia muito tempo. Dá um pouco de preguiça. Mas eu sei que é temporário, eu sei que eu já vou pra casa e vai voltar tudo ao normal e eu vou ficar com saudade de todo mundo, então tudo bem, a gente agüenta, a gente respira fundo, bate na mesa, fala alto, assusta os meninos - flashback, flashback - e fica tudo bem no final.
Mas que é um saco, é.
E eu me sinto novamente com dezessete anos.
E em alguns momentos eu até me peguei agindo como se eu tivesse dezessete anos, me arrependendo em seguida e deixando escapar umas coisas que me traíam pra caralho, umas coisas que eu nem queria dizer mas que me escapavam.
Excesso de passado às vezes faz isso.
Até o meu sotaque voltou. Voltou com força total. Falei até bah. E a fudê. Várias vezes.
E mexi nas minhas cartas antigas, e mexi nos meus discos que ficaram, e estou mexendo em umas coisas dentro de mim escrevendo meu livro para adolescentes ("E os outros não eram?" Rá-rá-rá) e encontrando umas memórias que estavam completamente perdidas, mas que fazem parte de mim tanto ou mais do que as coisas que estão na cara.
Praticamente uma análise solitária de quem eu fui, quem eu sou e quem eu teria me tornado se tivesse ficado.
E é para ela que eu vou voltar agora.


 
 

TUDO TINHA MUDADO. Menos o que ficou igual.

  • Vida de gato
  • Das coisas esquecidas atrás da estante : esgotado, procure nos sebos!
  • Máquina de Pinball
senso*