Tuesday, March 20, 2007

EU, OS CAMARINS DO TEATRO GAÚCHO, A FERNANDA, O MARIÃO E O CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS

Eu sempre tive um pouco de trauma com teatro. Porque eu cresci no meio do teatro gaúcho. Dentro do teatro gaúcho, pra ser mais exata. Dormindo no camarim do teatro gaúcho. Que era de uma afetação sem tamanho. Umas coisas horríveis. Umas coisas boas perdidas no meio, como a peça do meu pai, que já dura 24 anos e é incrível, mas ninguém consegue exatamente categorizar como uma peça ou um show com personagens. Mas enfim. Eu tinha problemas com o teatro. E meus problemas pioraram quando fizeram aquela peça equivocada do meu Máquina de Pinball. Desculpe, mas eu não gostei. Sim, é lisonjeiro fazerem uma peça com o seu livro. Especialmente da maneira que aconteceu. O Antonio Abujamra encontrou o original antes de ser publicado no trailler do meu pai, quando eles estavam filmando juntos, sem saber de nada que era de filha de ninguém, caiu de amores pelo texto e quis. Fez inclusive o prefácio. Porra, legal pra caralho. Só que, pelo que eu percebi, não foi ele quem montou a peça. E Os Outros foderam o meu livro de modo que eu quase pari durante a estréia, de puro desgosto. Aquilo não tinha nada a ver comigo. Nada. Era quase o oposto de mim e do meu pobre texto, inclusive. Mas tudo bem, passou. Passou muito tempo, pari naturalmente sem nenhum desgosto depois.

E aí eu conheci o Marião, a Fernanda e o Cemitério de Automóveis.
E tudo mudou.
Aplaudi de verdade pela primeira vez.
Não tem afetação. Não tem gente pensando "ok, agora eu vou atuar" e fazendo cara de ator. Eu odeio gente que faz cara de ator. Eu odeio afetação. Eles não têm nada disso. É um povo que - valha-me DNA hippie da porra - está na mesma vibração que eu.
Eu ainda estou aprendendo. Não aprendendo a gostar. Eu já gosto. Aprendendo a ver mesmo.
Só nas duas últimas semana eu vi mais peças do que nos últimos seis anos.
E gostei de todas.
Eu não sei nada de teatro. De dramaturgos. Eu sento lá na Praça Roosevelt e fico escutando. E às vezes chega um.

- Oi, você é atriz?

Sempre tenho vontade de responder que não, sou atroz. Mas estou aprendendo a ser educada.

- Não. Eu sou escritora.

- Ah! Você escreve para teatro?

Porque todo mundo ali, ou quase todo mundo, orbita nesse universo. Quer dizer, faz parte dele. Quem orbita sou eu, com aquele meu copo de cerveja de pedinte pelas mesas dos amigos.

Não, eu não escrevo para teatro. Mas acho que poderia. Vou continuar meu intensivo de peças boas e ver se aprendo. Aí eu tento.

De qualquer maneira, se eu fosse você, aproveitava e ia na IV Mostra do Cemitério de Automóveis, que está acontecendo no CCSP. Semana passada eu vi "Efeito Urtigão", com o Marião e o Paulo de Tharso, mais conhecido como Picanha, grande cara. Texto foda. Peça foda. Altamente recomendada. Um cara amargo, sensível e puto com as coisas do jeito que são se isola nas montanhas ou sei lá onde e um outro, seu ex-melhor amigo, que seguiu a carreira de jornalista que os dois tinham, aparece por lá sem avisar. Nada mais digo. Quer dizer, digo: é a última semana e eu não perderia se fosse você.



Vi também "Faroestes", baseada nos contos do Marçal Aquino. Tem um milhão de peças. Eu vou botar todas lá no final do post para que você não tenha desculpas.

Outra peça que eu achei incrível foi a que eu vi sábado passado, "Roxo". O texto é de um cara chamado Jon Fosse, de quem eu nunca tinha ouvido falar, mas eu já disse que eu não sei porra nenhuma de teatro então isso não quer dizer nada. A Fernanda D'umbra que dirigiu. A Fernanda é uma amiga muito querida e uma mina das minhas. Eu preciso parar de falar mina. Anotação mental: parar de falar mina. Mas como eu ia dizendo, a peça é ótima. Pessoas tentando montar uma banda num porão. Pessoas problemáticas. Pausas longas. Desconforto. Alguém disse que era "para adolescentes". Mas ei. Não. Ou então eu realmente ainda tenho uma teenage head.



Essa está no Satyros 1, na Praça Roosevelt, 214, às 21h. Domingo é as 20h30. Vai até o dia 27 de maio. Ou seja: sem desculpas. Quer dizer, você não precisa de desculpas, pode simplesmente me mandar às favas e dizer que odeia teatro. Mas aí você vai perder o mesmo tempo que eu perdi.

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EFEITO URTIGÃO

última semana: terça e quarta, 20 e 21

FAROESTES

última semana: quinta e sexta, 22 e 23

FELIZES PARA SEMPRE

Terças e quartas

Dias 27 e 28 de março

Dias 3, 4, 10 e 11 de abril

OVELHAS QUE VOAM SE PERDEM NO CÉU

Quintas e sextas

Dias 29 e 30 de março

Dias 5, 6, 12 e 13 de abril


A FRENTE FRIA QUE A CHUVA TRAZ

Quintas e sextas

Dias 19, 20, 26 e 27 de abril

CHAPA QUENTE

Sábados e domingos

Dias 10, 11, 17, 18, 24, 25 e 31 de março

Dia 1.º, 7, 8, 14, 15, 21, 22, 28 e 29 de abril

CENTRO CULTURAL SÃO PAULO

Rua Vergueiro, 1.000, tel. 3277-1435. De 3.ª a sábado: 21 h. Domingo: 20 h, R$ 15


 
 

TUDO TINHA MUDADO. Menos o que ficou igual.

  • Vida de gato
  • Das coisas esquecidas atrás da estante : esgotado, procure nos sebos!
  • Máquina de Pinball
senso*