mais um dia como qualquer outro que foi assim
dorme comigo hoje, eu pedi, só dorme, só dorme comigo, assim, grudado, e ele gemeu ai, você gosta de dormir abraçada?, e eu gosto, disse que gostava, então ele foi, e no caminho ele continuava gemendo, dizia que eu era veneno, que eu era doce demais, que não podia, não devia estar fazendo isso, que aiaiai, mas o carro ia cada vez mais rápido e eu meio sorrindo em silêncio pedindo deus, se você está aí, deus, me dá este menino, porque eu só quero esse menino, eu não quero mais nada, mas acho que deus não estava lá porque ele levantou antes que eu acordasse, a cama cheia de sangue, os lençóis revirados, os travesseiros caídos, minhas coxas meladas de porra, o barulho do zíper, zuuit, acordei com o barulho do zíper e ele estava indo embora, eu disse não vai, e eu disse deus, alô deus, mas só deu para escutar as chaves virando e o elevador abrindo. não dormimos juntos. ele disse que me amava quando gozou nas minhas costas e eu ri e disse não ama não, shhh. ouvi a porta do carro batendo, o barulho do motor, abracei meu gato e dormi. nunca mais falei com deus.
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(das coisas esquecidas atrás da estante, esgotado)
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(das coisas esquecidas atrás da estante, esgotado)