abril
quando chega abril eu me calo. não é luto. não é que eu queira. simplesmente me calo. com abril acaba o calor e começa o meu pequeno inferno particular. quando vem maio, me calo ainda mais. quase muda. a solidão que não passa. quase passa. as noites começando mais cedo e uma vontade que beira o incontrolável de fechar os olhos e ser levada pela mão, levada até algum lugar, nem que seja até a cama quando durmo no sofá ou quando fico presa sem conseguir dormir, acordada sem fazer nada, fazendo nada no automático até a exaustão, até os ombros endurecerem, até eu endurecer inteira junto com o ar que também fica espesso. foi em abril daquele ano que comecei a acreditar; em maio descobri que era mentira. aprendi que não existem certezas - e desaprendi com o tempo para sobreviver. em abril as unhas descascam, os pés acordam gelados e as olheiras não se vão. uma pausa. alguns delírios. a falta do que sempre esteve lá. uma mistura de saudade, desesperança, resignação e o peso do tempo passando e cada momento escorrendo pelo dedos sem piedade. só mais um capítulo do que já passou e do que está por vir. todos os anos vêm as bodas de tristessa sem motivo para festejar, mais um item para a pilha de repetições. agora me calo com os olhos baixos; é melhor ficar em silêncio quando não há nada a dizer.