Friday, March 21, 2008

noite de achiropita

eu te levaria nas cantinas do bixiga num fim de tarde que começaria deprimente, você ficaria naquelas suas inquietações mas ah, eu não ia deixar, eu ia te levar pro bixiga andando, a gente ia suar um pouco, sabe, já não somos mais tão jovens, muito menos para aquelas ladeiras, e então chegaríamos ofegantes naquele bairro das três cores com o dia já acabando, comeríamos um pouco, talvez só os antepastos, alguém se sujaria um pouco de sardella e de repente já estaríamos bêbados eufóricos e rodopiando pelas ruas mesmo que não fosse época de achiropita, falando ao mesmo tempo e rindo o riso perfeito. lá ninguém olha feio quando alguém rodopia na calçada e ri o riso perfeito, é para isso que aquele lugar existe. e então augusta, talvez, ou não, casa, eu já moraria numa casa, aquela casa do jeito que eu quero, com tudo antigo, valvulado, ouviríamos discos, beberíamos uísque, usaríamos o que quiséssemos, você ia me mostrar mais alguma coisa que eu preciso conhecer e que me causaria estarrecimento e paixão por meses, e então o dia começaria a amanhecer e a iminência do fim também. e você sumiria como sempre por mais alguns meses, me deixando plena com o eco do riso perfeito e o gosto de que a vida é assim mesmo e que a felicidade só pode ser efêmera, senão dói mais.


 
 

TUDO TINHA MUDADO. Menos o que ficou igual.

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senso*