melanoma
Eu vou tentando esconder, vou usando umas roupas largas, umas mangas longas, sorrindo com meu copo encostada pelas paredes, pelas portas, me embaraçando em abraços. Eu vou escondendo bem até que me cutuquem. Eu estou com uma porra de um câncer que não adianta ignorar. Eu estou com uma porra de um câncer e não sei como curar. Mas a vida continua. E a vida está boa assim. Até que a minha pele comece a descascar e todo mundo veja a minha carne. Até as bolhas estourem e o meu sangue comece a escorrer manchando a mesma parede onde eu me encosto com o meu copo. Até que eu comece a morrer. Morrer fingindo que nada está acontecendo, acenando com a cabeça para alguém do outro lado da rua. Só porque eu sou turrona. Eu não vou desencostar da minha parede. Joga os dados e vê qual número sai. Porque agora é a sua vez de jogar.