desert flower blues
meu pulmão chia
e a luz da cozinha não funciona.
deixo a tv ligada pra não me sentir sozinha porque não consigo ouvir música nestas caixinhas de merda. aquela bicha sumida tem que devolver meu discman logo para meu som voltar a ter vida, para a minha casa voltar a ter vida, para a minha vida voltar a ter vida.
não tem música.
me sentindo uma burocrata. uma funcionária pública de mim mesma, como ele me disse uma vez.
um metro e oitenta de solidão e tormenta, o melhor dos piores, um covarde, um idiota, um gênio, um cuzão, meu amigo, meu irmão, minha alma gêmea e o único que entende as coisas como devem ser entendidas. entende tudo, tudo. sempre entendeu.
o resto é baconzitos, disse ele.
eu sou um metro e setenta e três de solidão e tormenta.
quero ver alguém entender isso.
alguém entender quando eu me entocar no canto do bar e quiser ficar ali com o meu copo de conhaque com limão.
quero ver alguém entender o silêncio, só o silêncio, sem perguntas, porquês e nem porra nenhuma.
porra nenhuma.
é tudo que eu tenho para oferecer.
a rua me chama. o frio me chama. pedi tanto o inverno e agora ele veio,
mas eu quero ficar em casa com a tv ligada. no mudo. só uma presença meio fantasma nesta casa enorme.
longe da maldade do mundo. longe dos filhos-da-puta que destilam umas merdas gratuitas em mesas de bar achando que vai ficar assim.
longe dessa lua cheia em cima da igreja da consolação.
meu pulmão chia
e a luz da cozinha não funciona há meses.
não estou sentindo nada.
deve ser o frio.
e a luz da cozinha não funciona.
deixo a tv ligada pra não me sentir sozinha porque não consigo ouvir música nestas caixinhas de merda. aquela bicha sumida tem que devolver meu discman logo para meu som voltar a ter vida, para a minha casa voltar a ter vida, para a minha vida voltar a ter vida.
não tem música.
me sentindo uma burocrata. uma funcionária pública de mim mesma, como ele me disse uma vez.
um metro e oitenta de solidão e tormenta, o melhor dos piores, um covarde, um idiota, um gênio, um cuzão, meu amigo, meu irmão, minha alma gêmea e o único que entende as coisas como devem ser entendidas. entende tudo, tudo. sempre entendeu.
o resto é baconzitos, disse ele.
eu sou um metro e setenta e três de solidão e tormenta.
quero ver alguém entender isso.
alguém entender quando eu me entocar no canto do bar e quiser ficar ali com o meu copo de conhaque com limão.
quero ver alguém entender o silêncio, só o silêncio, sem perguntas, porquês e nem porra nenhuma.
porra nenhuma.
é tudo que eu tenho para oferecer.
a rua me chama. o frio me chama. pedi tanto o inverno e agora ele veio,
mas eu quero ficar em casa com a tv ligada. no mudo. só uma presença meio fantasma nesta casa enorme.
longe da maldade do mundo. longe dos filhos-da-puta que destilam umas merdas gratuitas em mesas de bar achando que vai ficar assim.
longe dessa lua cheia em cima da igreja da consolação.
meu pulmão chia
e a luz da cozinha não funciona há meses.
não estou sentindo nada.
deve ser o frio.