eu e ela

eu e a nico em casa. e os outros gatos. o joo está velho e mal-humorado, não quer mais saber de mim, só de dormir obesamente sobre o sofá. a nico não. ela mia sem som e deita no meu colo enquanto eu escrevo. e tem dias que eu só quero saber da minha gata. nem de música, nem de cigarro, nem de bebida nem de nada entorpecente e nem de homens ou bares ou conversas. silêncio e a minha gata no meu colo. às vezes eu nem penso em nada. só fico ali com a nico no colo, ela com os olhos apertadinhos e só querendo estar ali comigo também. é uma espécie de meditação. só estar. a faxineira não vem mais. me encarrego eu das vassouras e dos panos e de botar as bagunças no lugar. às vezes acho que é melhor assim - não preciso lidar com intrusos em casa e nem me irritar porque as coisas foram colocadas nos lugares errados. minha conta está bloqueada e ninguém no banco sabe me explicar o motivo. a puta da gerente não estava e não me ligou. não tenho dinheiro - pior, tenho, mas não consigo tirar da porra do banco. tem um telegrama aqui falando que é "devido a um depósito". telegrama? depósito? e a gerente já foi embora. minha filha está de férias em porto alegre. "mamanhê, agora não posso falar, estou brincando". que bom. ela está feliz. eu estou feliz porque ela está feliz. e quero jogar uma bomba no banco. mas eu tenho a nico no meu colo. a nico que mia sem som e é a melhor das gatas. e é só ela que eu quero no dia de hoje. um dinheirinho ia super bem também - pra poder jantar, sei lá -, mas tudo bem. tem a nico, tv a cabo e é só o que eu preciso em mais uma terça-feira cinza e inútil em são paulo.