it's gonna take some time 'till you know what i mean
não sei bem como, sei que a estrada estava livre até guarulhos, o aeroporto estava vazio - ninguém tem essa idéia de viajar bem no meio do carnaval - e mais ou menos três horas depois de sofrimento de ar condicionado ouvindo sharon jones eu estava em cuyabá sem ter dormido quase nada. ainda estou. cuyabá. não pergunte. olho pela janela e vejo a chapada dos guimarães me chamando. horizonte por todo lado, tudo que eu precisava em minha vida cinza. um pouco de claustrofobia novelística, talvez, e todos os mosquitos do mato grosso pousando em mim e tentando atravessar minha pobre pele branca. sofro de calor, mas não tem problema; aqui tem horizonte e é tudo que eu precisava. fui ao grito rock na segunda, virei assistente de técnico de som, devo ter feito um ou dois amigos e as namoradas me odeiam. não que eu me importe - sempre foi assim, nada muda tão rápido e eu quero mais é que se dane. estava mais preocupada em fazer o som ficar bom - estava impossível. mas ninguém notou, só a banda e quem tem ouvido. enlouquecedor, no mínimo. nada que não se cure com o que tem aqui, horizonte e uma cerveja, talvez. daqui a pouco eu vou pra casa. já tenho um pouco de saudade. creio que sou viciada no concreto. mas antes preciso conhecer mais daqui, um pouco da chapada, um pouco mais de tudo, tentar encontrar as pessoas, fuçar em uns sebos, passar mais calor, alimentar mais os mosquitos, respirar um pouco mais de ar puro antes de voltar para minha vida de sempre, a minha vida que eu escolhi, a minha solidãozinha, a minha casinha, meus gatos e são paulo, minha querida cidade. madrasta sortuda do meu talento, como disse ele, que me espera de braços abertos, minha madrasta que me acolhe todos os dias por mais que eu reclame da minha sorte. porque eu nasci gaúcha, mas agora sou paulistana de coração.