Tuesday, February 12, 2008

oceano no céu, ódio no coração e o juízo atravessado lá pelos anos setenta

eu indo buscar a minha filha, cheguei no aeroporto e o guichê da oceanair vazio. deserto. nenhuma alma. isso eu vendo de longe e pensando "uau, cheguei na hora, que coisa absolutamente incrível", porque, não sei se comentei por aqui, tenho esse probleminha que gosto de glamurizar e chamar de A Arte Milenar de Perder Vôos. o negócio lá às moscas com dois atendentes, filas em todas as outras companhias e eu me aproximando e sacando meu pessoal & intransferível documento de identidade, mal acreditando na sorte.

"senhora, seu vôo foi cancelado pela oceanair. a senhora pode estar se dirigindo ao embarque internacional para um vôo da gol, às 21'40". ao sinal, vinte e uma horas. corri, as escadas rolaram e cheguei no tal guichê (adoro, "guichê") de conexão/conección e a fila era gigantesca. eu vestia bermuda preta, melissa preta, blusa com estampa p&b geométrica e carregava: 01 bolsa de sempre e 01 mochila com algumas roupas, dois mil cosméticos e 01 notebuck® II, que não possui casinha então eu levo como dá. a situação era tensa, o tempo era curto e o meu saco era cheio. pedi para a moça da frente segurar meu lugar na fila e fui buscar um café para ajudar a tensão. a piorar, claro. então eu, que ando oscilando entre epifanias & vislumbre de Toda a Pureza e falhas seriíssimas nas sinapses e uma lerdeza nunca dantes experimentada, pensei: porra, embarque internacional? e imediatamente me vieram à mente apetrechos para atividades ilegais em minha bolsa de sempre e a própria substância ilegal, guardada no meu peito esquerdo. puta que pariu. eu ando achando que estou nos anos setenta. fiquei mais tensa, o tempo corria, a fila não andava e não existia maneira de colocar aquilo em um lugarzinho menos pala. tudo bem, pensei, não vai acontecer nada, estão todos com pressa, vamos todos sair correndo. fui arrancada de meus devaneios ao ver o moço do check-in - que não ajudava - dizendo que nada de frascos com mais de 100ml na bagagem de mão. e eu preocupada com drogas! gostaria de lembrar que eu viajava com 01 mochila contendo todos os meus pertences. todos eles. inclusive frascos com muito mais de 100ml que quebram, como meu les vanilliers, meus shampoo e condicionador paul mitchell mal acondicionados, meu round trip, enfim, meus amigos, estamos tratando aqui de cosméticos caros e não preparados para ficar sendo atirados para lá e para cá em esteiras, sem contar o notebuck® II, que jamais poderia ser despachado, muito menos naquela mochila fuleira. ódio. não havia outra maneira, era uma merda de uma caralha de um vôo internacional para montevideo que eu não havia adquirido e não estava preparada para. enrolei os meus estimados cosméticos nas minhas poucas roupas, pedi etiqueta de frágil doze vezes ao moço do check-in - que não ajudava -, tirei o notebuck® II de lá, botei debaixo do braço e saí praguejando pelo aeroporto, acompanhada de um funcionário da gol, pensando em usar a zarabatana que comprei para o meu pai lá na chapada no primeiro que enchesse meus pacovás por qualquer motivo que fosse.

embarque internacional. aqueles homens atentos de gravata. todo mundo me olhando (paranóia). eu com o notebuck na mão, desprotegido, maconha no sutiã e ódio no coração. e a zarabatana na bolsa, caso algo desse errado. mas não. deu certo. tudo correu sem maiores incidentes, excetuando o fato de que tudo isso foi escrito no avião, que demorou mais meia hora para decolar. finalmente decolou, eu escutando sharon jones, mexendo meu pescocinho, "believe me baby when i tell you - your thing is a drag", sinto o cheiro inconfundível de brau. é claro que vinha de mim, mais especificamente do meu peito esquerdo. o avião demorou demais para decolar, o ar estava desligado, fiquei com calor, esquentei e voilá: o brau esquentou junto e passou a perfumar o ambiente. e eu lá entre uma senhora com acessórios dourados e tirando fotos do céu e um senhor de camisa listrada lendo auto-ajuda financeira. mas deu tudo certo. tudo certo. ninguém notou nada, não havia nenhum cão farejador a bordo e eu e meus entorpecentes fomos deixados em paz. cheguei, dormi, acordei, afofei minha filha, fui ao dentista, descobri que meus dois sisos estão na horizontal e que vou ter que passar pela agradável cirurgia de extração e ficar com aquelas bochechas de baleia por semanas, mas tudo bem. eles precisam ir mesmo. afinal de contas, são conhecidos como os dentes do juízo. que é uma coisa que ficou igualmente atravessada em algum lugar enquanto crescia em mim.


 
 

TUDO TINHA MUDADO. Menos o que ficou igual.

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senso*